Comentário 5x14 - Trough A Glass, Darkly

Quatro meses depois da morte da filha, e sem nenhum sinal do corpo, arma do crime ou do assassino, Leona Vanderwaal decide fazer um velório para Mona na tentativa de por fim em seu sofrimento. Tanner observa o cortejo sem interrogar as meninas enquanto o caixão vazio deixa a igreja rumo ao carro funerário. A inesperada aparição de Alison talvez tenha impedido a polícia de, pela primeira vez, permitir que as meninas deixassem um velório sem serem incomodadas. Chocando todos que estavam ao redor da igreja, Alison se aproxima de Leona para dar os pêsames e, em troca de suas condolências, recebe uma bofetada na cara. Jurando sentir a morte de Mona e não ter nada a ver com o crime, Alison é ignorada pelas meninas e afastada de Leona que, um tempo depois em sua casa, pede desculpas para Hanna por seu descontrole fora da igreja. Inconformada, Leona desabafa com Hanna que até aceita a morte da filha mas não admite ver Alison livre por aí. Tão desamparada quanto Leona, Hanna, sem muito o que fazer, consola a mãe da ex-sempre-melhor-amiga e ganha de lembrança um cachorrinho de pelúcia que era de Mona. 

Na delegacia, Toby policial analisa o mandato de prisão de Spencer pela morte de Bethany. Surpreendido por uma bondosa Tanner, que entrega para ele o arquivo que contém as informações que ela sabe que ele está procurando, Toby questiona o motivo da fiança da namorada ter sido revogada pelos pais da vítima. Tanner explica que a aparição de um testemunho contra Spencer fez com que surgissem novas provas de que ela matou Bethany. Segundo Tanner, a sra. D. viu Spencer com uma garota loira vestida de Alison na noite em que Bethany foi enterrada no quintal dos D. e que esse testemunho foi abafado por Wilden, sendo descoberto apenas agora. Estranho a sra. D. testemunhar contra Spencer e isso constar nos arquivos de Wilden. Não foi a própria sra. D. que, segundo os registros de Ezra, pagou para CeCe fechar a boca e esquecer que viu Spencer batendo boca com Alison na noite do celeiro? Por que abafar a discussão com Alison e explanar que Spencer estava com uma loira vestida de Alison naquela noite? A sra. D. preferiu esquecer que viu Alison discutindo com Spencer mas achou normal ver Spencer zanzando com uma loira vestida igual a filha naquela noite? Noite em que Bethany foi enterrada, nas palavras de Tanner, é muito importante frisar. Em Rosewood, a cidade em que cada policial tem suas próprias leis, uma pessoa is gone é diferente da que is dead; o que significa que, quando alguém foi enterrado, não é porquê estava morto. No 2x25, Mona revela para Spencer que, desde que Alison was gone, elas se separaram, o que permitiu sua aproximação com Hanna. Para Mona, se o mesmo acontecesse com alguma das meninas, Hanna se reaproximaria dela. Na 5A, Mona sentenciou que queria Alison gone e que ela desejaria continuar dead. No 5x02, no mausoléu, Alison fala para Mona que a garota que está na sua lápide is gone. No 5x13, Hanna comenta que Alison consegue tudo que quer: Mona is gone, Bethany is dead. No 5x14, é a vez de Alison lamentar que as amigas a querem gone. É complicado saber quando realmente gone é gone, dead é dead e entender que, na cidade em que os presidiários deveriam circular com roupa de palhaço, ser enterrado passou bem longe de ser sinônimo de bater as botas. Tão complicado quanto entender como uma pessoa é acusada por um crime que ela nem sabe que cometeu e muito menos quem foi a vítima. Spencer nem sabe se é ou não uma assassina, muito menos quem foi que ela matou. Seguindo essa linha, tais pais, tal filha. Quem são os pais de Bethany? Quem os representa juridicamente? Quem são os responsáveis por azucrinarem a vida de Spencer, fazendo de tudo para que ela fique atrás das grades? Será que a resposta está no Radley? Tanner concluiu ou determinou que tudo leva ao Radley? A sra. D. ter um caso com o pai de Bethany não significa que ela o conheceu lá, significa? Não necessariamente. Bethany, pelo que parece, descobriu no Radley que a sra. D. andava com seu pai. O que não quer dizer que todo esse auê entre pai, mãe e filha que não prestam aconteceu somente lá. Agora que o tal testemunho da sra. D. veio à tona, sabemos o motivo de Spencer ser acusada. Agora sabemos; antes, não sabíamos. Agora Spencer é acusada pelo que a sra. D. falou. Agora, Alison é acusada pelo que Jason falou. Agora, a palavra de qualquer um vale mais do que uma evidência física. O DNA de Mona nas coisas de Alison não prova que ela é a assassina de Mona; o depoimento contraditório de Jason, sim. Spencer nem conhece as pessoas que a fazem pagar por um crime. Não está ficando um pouquinho ridícula a maneira como estão conduzindo essa história? Tudo bem alguém ter sido enterrada como Alison e fazerem mistério quanto a identidade da vítima. Mas a partir do momento em que revelaram sua identidade, estenderem a questão para a família de Bethany está transformando o clichê em uma sucessão de incoerências que só tendem a causar um desgaste e um cansaço desnecessário em relação a essa trama. Sério mesmo que Peter aceita revogação de condicional sem nem saber com quem está lidando? 

No mesmo molde se desenrola a morte de Mona. O DNA de Mona nas coisas de Alison não prova nada. Quem precisa de DNA em qualquer lugar quando se tem um irmão para te denunciar? Jason mentiu para a polícia, o que também faz dele um criminoso. Em Rosewood, a cidade em que todo hoddie é -A e toda loira é Alison, dez segundos de gravação de uma câmera escondida bastam para condenar alguém. O que deu em Jason para entregar Alison? Só porquê ela saiu de casa em Ação de Graças, ficou fora um tempo e depois voltou? Só tinha a casa da Mona para Alison ir? Por que a câmera da sala de Mona, instalada há meses, gravou apenas dez segundos de tudo que aconteceu na tarde em que ela morreu? Sério mesmo que somos obrigados a ver uma agente do FBI e um homem forte como Jason terem certeza que a loira jogando Mona pra lá e pra cá era Alison sem ao menos fazer uma observação do tipo não sabia que uma menina como minha irmã era tão violenta assim! Se Mona está gone ou dead, não sabemos. Mas temos certeza que aquilo não passou de encenação. Nos recusamos a acreditar que, seja lá quem for a loira, Mona não teria como reagir. 

Não é à toa que Grunwald questionou Hanna como ela consegue viver em um ambiente tóxico, repleto de segredos mortais. No mausoléu, a difícil de esquecer - e não víamos a hora de voltar - Grunwald profetiza que o meio em que Hanna vive, com suas grades, portões e barragens, não permite que ela veja as coisas com clareza. Ela apenas consegue vê-las através de um vidro escuro. Em Rosewood, a cidade em que as lápides do mausoléu mais parecem alegorias em homenagem aos que deveriam estar ali uma vez que nos escritos de alguns deles não constam datas de nascimento e morte, as pessoas tem sorte de não ouvirem uma resposta sincera quando se esbarram na rua e perguntam se está tudo bem. Rosewood estaria afundada em lágrimas se pessoas como Alison respondessem com sinceridade essa pergunta. 

Sinceridade que não falou a Little Bungee - mesmo que tenha sido um tanto quanto mórbida -, o cachorrinho de pelúcia de Mona que permitiu a Grunwald concluir que uma odiava a outra porquê uma tinha medo da outra porquê uma sabia coisas sobre a outra. Essas duas são quem? Alison e Mona? Mona e outra pessoa? Alison e outra pessoa? Duas pétalas iguais caírem da lápide de Mona enquanto Grunwald profetiza a razão do ódio entre uma e a outra significa alguma coisa? Grunwald lamenta por qual perda de Alison? Não descartamos a possibilidade da lamúria de Grunwald se referir a Mona e não a sra. D. (Amamos o clima Ravens que Grunwald causou no mausoléu com o vendaval de pétalas e corvos crocitando.) 

Traição. Traição e perda influenciaram na morte de Mona. Quem traiu Mona? Quem foi traído por Mona que, sofrendo um difícil processo de transição de um mundo para outro, encontra-se cercada por medo e insetos, em um lugar escuro e frio? No purgatório, debaixo da terra ou onde quer que esteja, Mona continua ditando as regras. Está explicado porquê ela e Caleb estavam amiguinhos no 5x12 a ponto dela dividir com ele seu programa hacker. Mona fez aquilo só porquê estava junto com Caleb e com as meninas já que, sozinho, ele tenta há quatro meses entrar no sistema militar de última geração utilizado por Mona. Sem sucesso. Está explicado porquê os dois estavam de sorrisinho. Mona estava rindo da cara dele. Foi inevitável abrir um sorriso nostálgico quando Caleb disse que desbloquear o sistema de Mona agora é questão honra. 

Mona is gone e nossa saudade não passa, nem a de Mike, que não entendeu o motivo de Ezra insistir para ele se descabelar por estar de luto. Sem corpo, sem funeral. Qual o motivo da insistência de Ezra em querer que Mike chore enquanto, cheio de boa vontade, ajuda na reforma do Brew? Ezra está com raiva porquê Mona passou a perna nele? Ezra sabe que Mike sabe o que Mona aprontou. O processo de negação de Mike, assim como seu processo de desabamento, não deixam dúvidas de que Mona planejou tudo que aconteceu, está acontecendo e vai acontecer. Ezra também sabe que Mona foi autora de seu infortúnio - de Mona; só não sabe o que/com quem ela fez. 

Sem mais nem menos, Ezra é o novo dono do Brew. Para quem até pouco tempo atrás vivia - ou fingia viver - com a geladeira vazia e dizia abominar a fortuna da família, a repentina decisão de se tornar dono de um negócio que não tem absolutamente nada a ver com sua área de atuação é tão questionável e sem entender quanto o fora que Paige deu em Emily. Qual o motivo de Paige ir para Califórnia com tanta pressa? Cadê os planos para o futuro ao lado de Emily no apartamento dos sonhos na Califórnia? Onde estavam Mike e Ezra quando o hoddie grampeou Aria na parede do Brew? Sério que com aquela boa vontade de trabalhar Mike perdeu o celular, pediu para Aria buscá-lo e foi embora sozinho? Aria ser grampeada para o suposto -A levar o computador de Mona é tão para-suspeitar-de-Mike-armando-com-Mona quanto reforçar nossas desconfianças em relação a Caleb. Para quem já teve que recolher sobras de roupa no lixo da escola, morou no sótão das Marin e de favor na cabana da madrasta de Toby, o novo apto de Caleb é o paraíso. Ao som de rock´n´roll, Caleb ensina Aria a pescar para que ela possa entrar no sistema da Oberlin e descobrir porquê não foi aceita. Como disse Spencer na época em que estava embirutando por causa de Toby: está na hora de parar de culparmos -A por tudo. Será que até na admissão das faculdades -A se intromete? Como as meninas vão reagir quando descobrirem que Hanna foi a que melhor se saiu nesse processo? Não foi a primeira vez que Mona repreendeu Hanna por não dar ouvidos a ela e ignorar seus conselhos para ela ser quem deveria ser, sem necessidade de camuflar quem ela realmente é. Não havia mais motivos para isso depois que Alison estava gone e, tempos depois, de volta. 

Spencer, Hanna, Aria e Emily - e Jason - estão contra Alison, esbofetada e desprezada em praça pública. Ainda bem que Grunwald inclui Alison em seus pensamentos e orações porquê senão, pobrezinha, o que seria dela? Presa pelo assassinato de Mona por ser a única loira da cidade, Alison agora é suspeita de matar Bethany, provavelmente por ser a única pessoa que Bethany conhecia fora do Radley. Assim como estava difícil encontrar Alison e Jason no mesmo lugar, está difícil Tanner e Holbrook se entenderem na mesma mesma investigação. Se Holbrook não estivesse fora resolvendo outro caso, Alison teria sido presa? Em um episódio em que palavras foram determinantes para condenar as pessoas, o que foi dito para Tanner desconfiar que Bethany foi a primeira vítima de Alison? Irriquieta na beliche da prisão, Alison parecia não ter boas recordações de ficar em um ambiente fechado com sua liberdade controlada por outras pessoas. Será que o quarto da prisão ressuscitou em Alison as lembranças da época em que o galpão abandonado do 5x10 foi apresentado como o cativeiro em que ela foi mantida por Cy e roubada por seus amigos do gueto?

Finalizando o episódio, a apoteótica queima de fogos nos lembrou muito os livros. Não que essa cena tenha acontecido na saga, mas a situação. Foi muito final dos livros #10 em diante as meninas conversando sobre a tão sonhada vida sem -A e verem a alegria durar pouco ao descobrirem que, mais uma vez, acusaram a pessoa errada e voltaram para a estaca zero.