Especial: tradução do prólogo de ALI´S PRETTY LITTLE LIES
Switcheroo*
Era uma vez duas irmãs gêmeas idênticas, Alison e Courtney.
Elas eram iguais em tudo: cabelos compridos e loiros, enormes e redondos olhos azuis, rosto em formato de coração e um sorriso capaz
de derreter qualquer coração.
Quando tinham seis anos, andavam em suas bicicletas roxas
que ficavam na garagem da família, em Stamford, Connecticut, cantando
"Frère Jacques" enquanto pedalavam. Aos sete anos, subiram grandes morros deslizante de mãos dadas.
Apesar de seus pais terem dado um quarto para cada uma delas, muitas
vezes elas dormiam abraçadas na mesma cama.
Todos diziam que elas tinham aquela indescritível conexão entre
irmãos gêmeos. Elas prometeram ser melhores amigas para sempre.
Mas promessas são
quebradas a cada dia.
Na segunda série, as coisas começaram a mudar. No começo, foram coisinhas bobas: um olhar estranho, um leve empurrão, um suspiro indignado. Em
um sábado, Courtney apareceu na aula de artes de Ali insistindo que era a irmã.
Courtney se sentou na carteira da irmã, em um dia que Ali estava doente. Courtney se apresentou como Ali aos garotos
da UPS, aos novos vizinhos que tinham um filhote de cachorro e a balconista da
farmácia.
Talvez Courtney fingia ser a irmã porque Ali tinha um brilho
extra, que a fazia ser mais notada.
Talvez Courtney tivesse ciúmes. Ou Talvez Courtney fosse falsa.
"Ali me obrigou a fazer isso", Courtney disse aos seus pais
quando foi pega. "Ela disse que se eu não fingisse ser ela, algo terrível iria
acontecer comigo e com todos vocês.".
Mas, quando os pais perguntaram a Ali se aquilo era verdade,
seus olhos se arregalaram.
"Eu nunca diria algo assim!", ela respondeu inocentemente. "Eu
amo minha irmã e eu amo vocês.".
De repente, Courtney e Ali estavam aos berros no playground.
Então, Courtney
trancou Ali em um banheiro na hora do almoço e não deixou ela sair.
Os professores, preocupados, chamaram seus os pais. Os vizinhos começaram a afastar seus filhos de Courtney quando ela passava, com medo de que ela pudesse machucá-los.
A gota d'água foi em um dia de primavera, quando os pais
das meninas encontraram Courtney sentada em cima de Ali, com as mãos ao redor
de sua garganta. Médicos foram chamados. As irmãs passaram por avaliações psiquiátricas. A reação de Ali foi normal mas Courtney entrou em pânico. "Ela que começou!", ela insistiu, "Ela me ameaçou.". "Ela quer que eu vá embora.".
"É esquizofrenia paranoide.", disseram os médicos com um tom de voz grave. "Pode ser tratada, mas exige muito cuidado.". A decisão final ficou nas
mãos de Ali. Com lágrimas nos olhos, ela decidiu que Courtney deveria ir embora. Uma
instituição foi encontrada. Courtney OFF se foi para longe de sua família, para
longe de tudo que conhecia.
Seus pais iriam trazê-la de volta para casa quando ela
melhorasse.
Passaram-se semanas;
passaram-se meses. De repente, Courtney foi meio que ... esquecida.
Às vezes, uma família é como uma espiga de milho no verão: do
lado de fora parece perfeita, mas quando você descasca, os grãos podem estar
podres.
Com os DiLaurentis, a garota que parecia ser a vítima só
poderia ter sido a algoz. Mandar
Courtney para longe talvez tenha sido um plano da Ali mestre. E talvez, apenas
talvez, tudo o que Courtney queria era o que ela merecia: uma vida feliz.
Afinal, trata-se de Rosewood, e essas são as gêmeas mais
misteriosas da cidade. E, como você sabe, em Rosewood nada é o que parece.
A primeira coisa que Courtney DiLaurentis ouviu quando ela
acordou na manhã em que sua vida mudou foi o tique-taque do relógio na parede.
Ele estava dizendo, de uma forma não muito sutil, que o tempo estava se
esgotando. Seus pais se mudaram de Stamford, Connecticut, há alguns anos, para
evitar a vergonha de ter uma filha internada em uma instituição mental. Eles mudaram
para o rico subúrbio de Rosewood, na Pensilvânia, a vinte milhas da Filadélfia,
onde até os cachorros usavam colares Chanel. Lá ninguém os conhecia e eles não
teriam que dar satisfação sobre sua filha louca internado no hospício.
Tinham até mudado seu sobrenome; deixaram de ser Day-DiLaurentis
para ser, simplesmente, DiLaurentis. Com isso, esperavam manter distância dos
vizinhos intrometidos de Connecticut.
O quarto de hóspedes em que Courtney ficava cheirava a naftalina
e tinha uma cama de solteiro com um edredom xadrez, uma pequena cômoda de vime, parecida com a de uma enfermaria, e uma estante pequena, com revistas de culinária e
várias caixas marcadas com as palavras impostos e homologações.
O armário estava
cheio de decorações de Natal, tinha um suéter que sua avó tricotou e camisolas
medonhas que ela não acreditava que alguém pudesse usá-las. Em outras palavras,
o quarto era um depósito de tudo o que a família queria esquecer – inclusive
Courtney.
Courtney se livrou das cobertas e foi até o corredor. A enorme casa vitoriana fora planejada de modo
que as escadas dessem em um grande quarto, o que dava a Courtney uma visão
panorâmica da cozinha. Seu irmão mais velho, Jason, estava debruçado sobre a
mesa com uma tigela de ceral Frosted Flakes. Sua irmã gêmea, Ali, desfilava
em torno do balcão. Seus cabelos loiros
formavam uma onda perfeita em suas costas e sua camiseta rosa deu um brilho
saudável a sua pele.
Ela levantou uma pilha de jornais e olhou embaixo dela.
Então, ela abriu uma gaveta de talheres e a fechou de maneira violenta.
"Alison, qual é o problema?" perguntou a Sra.
DiLaurentis, que usava um vestido cinza Diane von Furstenberg e salto alto. Parecia
que ela estava indo para uma entrevista de emprego e não levar a filha para uma
nova clínica.
"Eu não consigo encontrar o meu anel.", Ali
respondeu, abrindo o lixo e olhando o que havia dentro.
"O anel?".
"Meu anel com minha inicial, dããã.". Ali abriu
outro armário e bateu com força. "É o que eu uso, tipo, todos os
dias.".
Ela virou e olhou para o irmão. "Você pegou?”.
"Por que eu iria pegá-lo?", Jason respondeu de boca
cheia.
"Bem, eu não posso encontrá-lo", disse Ali.
"Assim como eu não posso encontrar meu pedaço da bandeira", disse ela, com os olhos
fixos em Jason.
Jason limpou a boca com um guardanapo. "Mesmo que eu
saiba sobre a droga do pedaço da bandeira, qualquer pessoa tem permissão para
roubá-lo, mesmo os que ajudaram a esconder. A cláusula do roubo, lembra?".
"Talvez você pegou para dar a outra pessoa." . Seu
olhar desviou para o segundo andar.
Courtney afastou-se da parede. Voltou para o quarto, abriu a
bolsa florida que ela tinha desde a terceira série e analisou o que estava lá
dentro. Havia uma camiseta rosa, semelhante
a que Ali estava usando. Encontrou um jeans escuro, que também combinava com o
de Ali. Ela abraçou as roupas.
A Cápsula do Tempo era uma tradição antiga em Rosewood Day, a escola particular em que Ali e Jason estudavam,
e era uma raridade um aluno da sexta série encontrar um dos pedaços.
Ali passou a semana toda se gabando por saber onde estava um
dos pedaços, embora, tecnicamente, Jason dissera a ela onde o pedaço estava – o
que não parecia justo.
Ali tinha decorado seu pedaço da bandeira na mesa da cozinha,
depois do jantar, duas noites atrás, dando a Courtney, que assistia tv na sua
“toca”, olhares de desdém. Aqueles
olhares diziam: veja como eu sou importante. Você nem tem permissão para sair de casa.
Mas Ali não tinha mais aquele olhar em seu rosto quando a
bandeira desapareceu no dia anterior.
Na privacidade do seu patético e minúsculo quarto, Courtney
deslizava o pedaço da bandeira, que estava decorado com logos da Chanel, da Louis Vuitton e um aglomerado de estrelas e cometas, entre os dedos. Courtney desenhou um poço dos desejos, porque queria
deixar sua marca em algo da irmã, e prometeu que devolveria a bandeira a Ali.
Mas Jason pegou o pedaço da bandeira antes que ela pudesse
devolver. Ele tinha visto Courtney olhando para ele em seu quarto e entrou dizendo:
"Você quer realmente que as coisas piorem entre vocês? ". Então, ele
pegou o pedaço de volta antes que ela pudesse dizer qualquer palavra.
Courtney estava prestes a fechar a mala quando o seu olhar
pousou sobre o panfleto da clínica The Preserve at Addison-Stevens, dobrado no bolso da
mala. Havia uma foto de um buquê de lírios sob o título. Eram as mesmas flores
que seus pais usaram no funeral de sua avó.
Ela abriu o folheto e olhou para a primeira página.
"Nós atendemos crianças e adolescentes para auxiliar no desenvolvimento
de suas habilidades e reconstrução da autoestima para poder voltar para casa e para
a escola.".
Lágrimas brotaram dos olhos de Courtney. Ela estivera internada em uma clínica desde os nove anos. Mesmo que ela tivesse se
acostumado ao Radley, assim como um rato se acostuma a uma gaiola, ela
tinha visto coisas horríveis que não queria testemunhar novamente. Fazia pouco tempo, o hospital anunciou que estava fechando suas portas e se transformaria
em um hotel de luxo. Courtney chegou a
supor que sua família iria trazê-la para Rosewood para viver com eles.
Quando seu pai a buscou na sexta-feira, ele disse que essa visita seria um tipo
de teste, que poderia se transformar em algo permanente.
Mas por alguma razão, as circunstâncias haviam mudado nas últimas
vinte e quatro horas. A Sra. DiLaurentis
tinha batido na porta do quarto de Courtney pedindo que ela arrumasse suas
coisas enquanto segurava o folheto da Preserve. "Acreditamos que essa será
a melhor coisa para você.", ela murmurou, acariciando o cabelo da filha.
Courtney folheou as páginas do panfleto, olhando as fotos
dos pacientes. Eles só podiam ser modelos, porque estavam muito felizes. Ela
tinha ouvido coisas terríveis sobre a Preserve, histórias de outras crianças
que passaram por lá. Algumas pessoas chamavam a clínica de corredor da morte,
devido ao excesso de pacientes suicidas. Outras falavam que lá era a torre da
Rapunzel, pois os pais deixavam seus filhos internados durante anos. Internet,
telefone celular e televisão eram proibidos.
As enfermeiras pareciam figurantes do One Flew Over the
Cuckoo’s Nest e os médicos eram estúpidos e sem paciência com as crianças. Os pais achavam o lugar ótimo, por que, por
fora, era lindo. E era caríssimo, então tinha que ser bom, não é?
Mas ela não ia. Ela passou a noite toda pensando em um plano
para não ir.
Agora, todas as peças estavam se encaixando, exceto a
oportunidade que ela precisava. Ela precisava que essa oportunidade surgisse
logo. Seus pais a levariam em 45 minutos.
Ela enfiou o panfleto no meio da roupas, fechou a mala e a
deixou na parte superior da escada.
Então, desceu as escadas. Algo chamou sua atenção do lado
de fora da janela. Quatro meninas estavam atrás dos arbustos, sussurrando.
Courtney podia ouvir as suas vozes através da cortina.
Uma menina, loira com uma saia de hóquei e uma camiseta branca, pôs as mãos nos quadris: "Eu estava aqui primeiro. A bandeira é minha.”.
"Eu estava aqui antes de você.", uma segunda menina
gritou. Ela estava do lado de uma gordinha e tinha cabelo castanho
encaracolado. "Eu vi você sair de sua casa há poucos minutos.". A terceira menina bateu o pé com sua bota de camurça roxa.
"Vocês duas acabaram de chegar. Eu estava aqui antes de vocês.".
Courtney passou a língua sobre os dentes. Elas vieram por
causa da bandeira da Ali? As meninas acenaram em direção a uma menina que vinha
da casa ao lado, que deveria ser Spencer Hastings.
A Sra. DiLaurentis tinha mencionado o nome dela no jantar
de sexta-feira e o Sr. DiLaurentis fez uma cara azeda. Ele tinha dito que os
pais de Spencer eram muito exibidos, que haviam transformado o antigo celeiro da
família em um luxuoso apartamento para a filha mais velha. “Como se um quarto
não fosse suficiente?”, ele criticou.
"Está vendo as meninas lá fora?", Courtney
perguntou a Ali, que estava de pé perto do balcão da cozinha, chacoalhando uma revista e com fones de ouvido nas orelhas. Jason tinha
saído e seus pais estavam no andar de cima, se preparando para sair.
Ali balançou a cabeça e os fones caíram. "O quê foi?".
"Há algumas meninas lá fora. Uma delas é a menina que mora ao lado.".
"Ela está no quintal?". Ali parecia irritada e
caminhou em direção à janela.
Mas quando ela olhou para fora, franziu a testa. "Eu não
estou vendo a Spencer. Graças a Deus!".
"Você não é amiga dela?".
Ali bufou. "Não. Ela é uma cadela.".
E você não é?, Courtney pensou.
Ali se virou para ela como se o que Courtney pensara tivesse
sido dito em voz alta.
Um sorriso malicioso se formou em seus lábios.
"Camiseta bonita. Mas está me dando déjà vu.”.
Courtney pegou uma banana da fruteira. "Eu gostei da cor.".
"Ah, legal.".
Ali foi até o balcão e pegou um donut de uma caixa aberta.
"Cuidado.", disse Courtney passando em sua
direção. "Donuts vão te deixar gorda.".
A geleia escorreu pelo queixo de Ali. "Então vou comer
comida de hospital, sua esquizo.”.
Courtney fez uma careta. Ela não era uma esquizo e Ali sabia
disso.
"Não".
"Não", disse Ali a imitando, transformando suas
feições, parecendo que queria socar o estômago
de Courtney. Ali sempre fazia um voz anasalada para imitá-la. "Pare com
isso.", ela mandou. "Pare com isso.", remedou Ali.
Courtney sentiu seu corpo queimar por dentro, e essa era a mesma
sensação que a colocou em várias confusões. Embora ela tenha tentado se segurar, não
se conteve e disse: "Você não sabe.”, ela cuspiu. “Eu estou com o seu
pedaço da bandeira.”.
Ali arregalou os olhos. "Eu sabia. Devolva.".
"Ele se foi", disse Courtney. "Eu dei a
Jason. E ele não quer dar de volta para você.”. Aquela não era bem a
verdade mas era uma boa versão.
Ali olhou carrancuda para Jason, que tinha reapareceu na porta.
"Isso é verdade? Você sabia que ela tinha a
minha bandeira?".
Jason olhou para as duas irmãs, o seu olhar atento nas roupas delas, que eram quase idênticas.
"Bem, sim, Ali, mas...".
Os olhos de Ali pousaram no bolso de Jason.
O tecido azul brilhou. Ela mirou o poço dos
desejos que estava desenhado entre o sapo de mangá e seu nome escrito em letras
em forma de bolha. Ali fitou Courtney: “Você desenhou isso?”.
Jason empurrou a bandeira para o fundo do bolso.
"Ali, não ligue para isso.".
Ali deu de ombros.
"Você está sempre do lado dela!".
"Eu não estou do lado de ninguém.", disse Jason.
"Sim, você está!". Ali olhou enfurecida para Courtney. "É uma
boa oportunidade para contar a mamãe que você me ameaçou ontem a noite. Isso é por que
você está indo para o Preserve, você sabe.".
Os olhos de Courtney se arregalaram. "Eu não fiz
nada para você!".
Ali inclinou o queixo para baixo. "Talvez você fez.
Talvez você não fez. De qualquer maneira, você não é bem vinda aqui, sua puta.".
"Ali, já chega!", Jason gritou.
"Já chega!", Ali o imitou com um sorriso
sarcástico. Em seguida, empurrou Jason
nas escadas e ele bateu na estante de ferro. Ele cambaleou, a estante tremeu e
um prato com a foto do Skyline de Nova York caiu no piso de madeira.
O silêncio após o acidente foi ensurdecedor. Jason olhou
para Courtney, que estava imóvel em um canto da sala. "Por
que você tem que começar as confusões com ela? ", ele sussurrou.
"Eu não poderia ajudá-la", disse Courtney, francamente.
"Sim, você poderia", disse Jason. E então, bufando, ele empurrou a porta dos fundos.
Courtney se virou.
"Jason, espere!", ela gritou, correndo para a janela. Apenas Jason era seu aliado e
ele não podia ficar com raiva dela.
Mas quando ela olhou pela janela, Jason já havia sumido.
No entanto, as quatro meninas ainda estavam escondidas nos arbustos. Ela olhou para trás e viu os pedaços do prato
quebrado espalhados por todo o chão. Não
levaria muito tempo para que sua mãe percebesse a bagunça. Ela iria perguntar
para as duas filhas o que tinha acontecido. Uma filha estaria no andar de cima.
Mas, e se a outra filha estivesse do lado de fora conversando com algumas
amigas da escola? Essa filha não seria Courtney, afinal, ela não conhecia
ninguém. Ela nem tinha permissão para sair.
Era isso. Sua oportunidade. Se fosse lá fora, seus pais
iriam pensar que ela era Ali e não
Courtney. Seria a primeira vez que ela representaria a irmã sem Ali por perto.
Então, ela pensou: a primeiro coisa que preciso fazer é me transformar nela.
Ninguém vai acreditar que eu não sou ela se não agir como ela. Então, ela
fechou os olhos e mentalizou sua irmã.
Uma bela vagabunda. A abelha rainha manipuladora. A menina
que tinha arruinado sua vida.
Sua pele ficou arrepiada. Não foi tão difícil assim. Courtney
tinha sido a líder de um grupo de meninas populares no Radley, ocupando as
melhores mesas, escolhendo a programação da tv e sendo a melhor no show de
talentos. E mesmo antes de ir para lá, ela tinha sido mais querida pelos amigos
de infância do que Ali fora.
As pessoas se sentiam à vontade com Courtney; ela sempre era
a primeira a ser escolhida para jogar bola, a que mais recebia cartões no dia
dos namorados, a garota que todos queriam para participar dos projetos de arte.
Ali, no entanto, intimidava as pessoas. Ela era muito agressiva e muito intensa. Ela gritava com as
outras crianças quando os adultos não estavam por perto, fazia beicinho quando
não ganhava um bom presente no amigo secreto e chegou a chutar um filhote de
gato quando uma menina foi mostrar o animalzinho para ela.
Sim, Ali era um pouco mais bonita do que Courtney; mas não
era a mais querida. E foi por isso que ela se esforçou tanto para tirar a irmã
de cena.
Ela queria ser a única estrela.
Courtney viu onde Ali estava para garantir que sua mãe soubesse exatamente onde cada uma das filhas
estaria. Meio que sem querer, derrubou outro prato no chão. O barulho foi tão alto que seria
impossível ignorá-lo. Courtney empurrou a porta dos fundos, viu as meninas
discutindo e olhou para o andar de cima da sua casa. Pelas expressões nos
rostos das meninas, ela concluiu que conseguiu enganá-las. Claro que elas
pensaram que era Ali.
"Você pode sair", ela gritou com o tom de voz mais
confiante que já usara.
As meninas não se moveram.
"Sério, eu sei que tem alguém aí!", disse ela.
"Mas se vocês vieram por causa da bandeira, ela não está aqui. Alguém
roubou.”.
Spencer foi a primeira a sair detrás dos arbustos As outras
a seguiram.
E então ela simplesmente. . . aconteceu. Elas a reconheceram
como Ali e começaram a fazer uma série de perguntas. As respostas saiam da boca
de Courtney de uma maneira tão natural que ela se achou perfeita para
interpretar a irmã.
Quando a Sra. DiLaurentis apareceu na varanda, seu olhar
analisou com cautela as meninas em seu quintal e ela, definitivamente, sabia
que elas não eram amigas de Ali. Mas
quando ela olhou para a filha, não suspeitou de nada. Ela apenas
confirmou para Courtney que achava que ela era Ali. Após fechar a porta, não
demorou muito para que a família saísse com o carro.
Eles foram embora. E isso era tudo.
Courtney estava tão animada e nervosa que tinha medo de não
conseguir continuar interpretando Ali, tratando as meninas de maneira apática. Ela se sentia como se estivesse prestes a
explodir. Estava com vontade de abraçar todas as árvores do seu quintal.
Courtney entrou de volta na casa. Ela se sentia como se
tivesse acabado de chegar correndo do Radley até sua casa.
Sua cabeça estava leve. Seu corpo, pesado. Ela observou
a cozinha. Pedaços do prato ainda estavam no chão.
Um vaso de flor também tinha sido derrubado. O silêncio da casa parecia se revesar com vozes de fantasmas falando o que
tinha acabado de acontecer. Gritos violentos e desesperados ecoavam no ar.
Houve uma briga para forçar alguém a entrar no carro. Houve um protesto contra
os pais, alegando que eles estavam internando a filha errada.
Ela caminhou pelos cômodos silenciosos, os sapatos de sua
irmã jogados no chão. Seu plano dera certo. Mas, de repente, o pânico a
atingiu. Agora ela precisava mantê-lo. Aquilo não era algo que deveria durar
até alguém descobrir que a garota errada
estava na Preserve.
Ela tinha que descobrir uma maneira de ficar em casa para
sempre.
Ela correu para o quarto da irmã, no andar de cima, pulando a
escada de dois em dois degraus. Seus olhos fitaram a colcha da cama de Ali, os
recortes de revistas e as fotos de suas amigas na parede. O guarda roupa estava cheio
de roupas deslumbrantes.
Ela deitou na cama de
Ali e enfiou a mão embaixo do colchão. O diário de Ali estava no mesmo lugar
que Courtney o vira no dia anterior. Ela se sentou e começou a ler.
Mas quando ela chegou no final, a sensação efervescente em
seu estômago se intensificou. O diário era todo sobre Naomi Zeigler e Riley Wolfe, e Ali tinha escrito códigos e
piadinhas internas que seriam impossíveis Courtney descobrir. De maneira alguma
ela poderia ser amiga de Naomi e Riley – ela teria que abandoná-las e formar um novo
grupo. Mas, quem seriam suas amigas?
A imagem das quatro meninas no quintal surgiu em sua cabeça.
Spencer, Aria, Emily e aquela gorducha.
Ela pegou o anuário da quinta série de Ali e folheou as
páginas. Hanna era o nome da gorda. Mas nenhuma delas assinou o livro de Ali.
Perfeito!
Sua cabeça doeu um pouco e ela colocou o diário embaixo do
colchão. Apenas uma hora havia passado.
Seus pais já estavam de volta? Será que perceberam o equívoco? Courtney espiou
pela janela da frente. Um carro preto estava estacionado na sarjeta, mas não
era possível ver o motorista.
Vindo da cozinha, era possível ouvir o som de alguém
entrando. Depois, o som veio das escadas. Ela permaneceu imóvel. Uma pessoa
apareceu na porta.
Jason olhou para ela com os olhos meio fechados.
"Será que eles
já a deixaram lá?".
Courtney respondeu que sim com a cabeça, prendendo a
respiração.
A boca de Jason mal se abriu. "Bom, Ali, acho que agora você deve estar feliz.".
Ele deu de ombros e foi para o seu quarto, batendo a porta
com tanta força que as paredes tremeram.
Alguns segundos depois,
era possível ouvir uma música de Elliott Smith.
Courtney passou as mãos pelo rosto. Jason a chamou de Ali.
Ela parou em frente ao espelho. A menina que aparecia no reflexo
usava uma camiseta rosa e um sapato de salto. Ela tinha o cabelo brilhante, o
rosto em formato de coração e sorria com o canto da boca.
Ela jogou a cabeça para trás e ajeitou os cabelos sobre os
ombros, do mesmo jeito que Ali fazia e deu um suspiro. Ela conseguiu!
Uma onda de euforia percorreu seu corpo. Ela ia dominar a
escola. Tornar-se fabulosa. Transformar-se, da melhor maneira possível, em Alison
DiLaurentis. Ela merecia aquilo. Mas, e sua irmã? Courtney pensou em Ali dentro
do carro com seus pais e como seria a vida dela na Preserve. Mas o que estava
feito, estava feito. E foi muito justo.
Ela permaneceu em pé em frente ao espelho, admirando a
menina que aparecia no reflexo.
De repente, ela se lembrou de algo. Correu para o quarto de
hóspedes, abriu a gaveta de cima da escrivaninha e pegou o anel que tinha
roubado de Ali na noite anterior, enquanto ela lavava os pratos. Ela colocou o
anel na direção da luz. Uma pequena
letra A estava gravada nele. Sorrindo para si mesma, colocou o anel no dedo
indicador direito, o mesmo dedo em que Ali o usava.
Então, ela olhou para a menina no espelho; "Eu sou Ali.", ela disse para seu reflexo. "E eu sou
fabulosa.".
*Switcheroo, em português, significa uma súbita mudança de atitude, posição ou ação.
*Switcheroo, em português, significa uma súbita mudança de atitude, posição ou ação.
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