quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Especial: tradução do prólogo de ALI´S PRETTY LITTLE LIES























Switcheroo*


Era uma vez duas irmãs gêmeas idênticas, Alison e Courtney. Elas eram iguais em tudo: cabelos compridos e loiros, enormes e redondos olhos azuis, rosto em formato de coração e um sorriso capaz de derreter qualquer coração.

Quando tinham seis anos, andavam em suas bicicletas roxas que ficavam na garagem da família, em Stamford, Connecticut, cantando "Frère Jacques" enquanto pedalavam. Aos sete anos, subiram grandes morros deslizante de mãos dadas.  Apesar de seus pais terem dado um quarto para cada uma delas, muitas vezes elas dormiam abraçadas na mesma cama.

Todos diziam que elas tinham aquela indescritível conexão entre irmãos gêmeos. Elas prometeram ser melhores amigas para sempre.

Mas  promessas são quebradas a cada dia.

Na segunda série, as coisas começaram a mudar. No começo, foram coisinhas bobas: um olhar estranho, um leve empurrão, um suspiro indignado. Em um sábado, Courtney apareceu na aula de artes de Ali insistindo que era a irmã. Courtney se sentou na carteira da irmã, em um dia que Ali estava doente.  Courtney se apresentou como Ali aos garotos da UPS, aos novos vizinhos que tinham um filhote de cachorro e a balconista da farmácia.

Talvez Courtney fingia ser a irmã porque Ali tinha um brilho extra, que a fazia ser mais notada.  Talvez Courtney tivesse ciúmes. Ou Talvez Courtney fosse falsa.

"Ali me obrigou a fazer isso", Courtney disse aos seus pais quando foi pega. "Ela disse que se eu não fingisse ser ela, algo terrível iria acontecer comigo e com todos vocês.".

Mas, quando os pais perguntaram a Ali se aquilo era verdade, seus olhos se arregalaram.

"Eu nunca diria algo assim!", ela respondeu inocentemente. "Eu amo minha irmã e eu amo vocês.".

De repente, Courtney e Ali estavam aos berros no playground.

Então,  Courtney trancou Ali em um banheiro na hora do almoço e não deixou ela sair.

Os professores, preocupados, chamaram seus os pais.  Os vizinhos começaram a afastar seus filhos de Courtney quando ela passava, com medo de que ela pudesse machucá-los.

A gota d'água foi em um dia de primavera, quando os pais das meninas encontraram Courtney sentada em cima de Ali, com as mãos ao redor de sua garganta. Médicos foram chamados. As irmãs passaram por avaliações psiquiátricas. A reação de Ali foi normal mas Courtney entrou em pânico. "Ela que começou!", ela insistiu, "Ela me ameaçou.". "Ela quer que eu vá embora.".

"É esquizofrenia paranoide.", disseram os médicos com um tom de voz grave. "Pode ser tratada, mas exige muito cuidado.". A decisão final ficou nas mãos de Ali. Com lágrimas nos olhos, ela decidiu que Courtney deveria ir embora. Uma instituição foi encontrada. Courtney OFF se foi para longe de sua família, para longe de tudo que conhecia.

Seus pais iriam trazê-la de volta para casa quando ela melhorasse.  

Passaram-se semanas; passaram-se meses. De repente, Courtney foi meio que ... esquecida.

Às vezes, uma família é como uma espiga de milho no verão: do lado de fora parece perfeita, mas quando você descasca, os grãos podem estar podres.

Com os DiLaurentis, a garota que parecia ser a vítima só poderia ter sido a algoz.  Mandar Courtney para longe talvez tenha sido um plano da Ali mestre. E talvez, apenas talvez, tudo o que Courtney queria era o que ela merecia: uma vida feliz.

Afinal, trata-se de Rosewood, e essas são as gêmeas mais misteriosas da cidade. E, como você sabe, em Rosewood nada é o que parece.

A primeira coisa que Courtney DiLaurentis ouviu quando ela acordou na manhã  em que sua vida  mudou foi o tique-taque do relógio na parede. Ele estava dizendo, de uma forma não muito sutil, que o tempo estava se esgotando. Seus pais se mudaram de Stamford, Connecticut, há alguns anos, para evitar a vergonha de ter uma filha internada em uma instituição mental. Eles mudaram para o rico subúrbio de Rosewood, na Pensilvânia, a vinte milhas da Filadélfia, onde até os cachorros usavam colares Chanel. Lá ninguém os conhecia e eles não teriam que dar satisfação sobre sua filha louca internado no hospício. 

Tinham até mudado seu sobrenome; deixaram de ser Day-DiLaurentis para ser, simplesmente, DiLaurentis. Com isso, esperavam manter distância dos vizinhos intrometidos de Connecticut.

O quarto de hóspedes em que Courtney ficava cheirava a naftalina e tinha uma cama de solteiro com um edredom xadrez, uma pequena cômoda de vime, parecida com a de uma enfermaria, e uma estante pequena, com revistas de culinária e várias caixas marcadas com as palavras impostos e homologações.

O armário estava cheio de decorações de Natal, tinha um suéter que sua avó tricotou e camisolas medonhas que ela não acreditava que alguém pudesse usá-las. Em outras palavras, o quarto era um depósito de tudo o que a família queria esquecer – inclusive Courtney.

Courtney se livrou das cobertas e foi até o corredor.  A enorme casa vitoriana fora planejada de modo que as escadas dessem em um grande quarto, o que dava a Courtney uma visão panorâmica da cozinha. Seu irmão mais velho, Jason, estava debruçado sobre a mesa com uma tigela de ceral Frosted Flakes. Sua irmã gêmea, Ali, desfilava em torno do balcão.  Seus cabelos loiros formavam uma onda perfeita em suas costas e sua camiseta rosa deu um brilho saudável a sua pele.

Ela levantou uma pilha de jornais e olhou embaixo dela. Então, ela abriu uma gaveta de talheres e a fechou de maneira  violenta.

"Alison, qual é o problema?" perguntou a Sra. DiLaurentis, que usava um vestido cinza Diane von Furstenberg e salto alto. Parecia que ela estava indo para uma entrevista de emprego e não levar a filha para uma nova clínica.

"Eu não consigo encontrar o meu anel.", Ali respondeu, abrindo o lixo e olhando o que havia dentro.

"O anel?".

"Meu anel com minha inicial, dããã.". Ali abriu outro armário e bateu com força. "É o que eu uso, tipo, todos os dias.".

Ela virou e olhou para o irmão. "Você pegou?”.

"Por que eu iria pegá-lo?", Jason respondeu de boca cheia.

"Bem, eu não posso encontrá-lo", disse Ali. "Assim como eu não posso encontrar meu pedaço  da bandeira", disse ela, com os olhos fixos em Jason.

Jason limpou a boca com um guardanapo. "Mesmo que eu saiba sobre a droga do pedaço da bandeira, qualquer pessoa tem permissão para roubá-lo, mesmo os que ajudaram a esconder.  A cláusula do roubo, lembra?".

"Talvez você pegou para dar a outra pessoa." . Seu olhar desviou para o segundo andar.

Courtney afastou-se da parede. Voltou para o quarto, abriu a bolsa florida que ela tinha desde a terceira série e analisou o que estava lá dentro.  Havia uma camiseta rosa, semelhante a que Ali estava usando. Encontrou um jeans escuro, que também combinava com o de Ali. Ela abraçou as roupas.

A Cápsula do Tempo era uma tradição antiga em Rosewood Day, a escola particular em que Ali e Jason estudavam, e era uma raridade um aluno da sexta série encontrar um dos pedaços.

Ali passou a semana toda se gabando por saber onde estava um dos pedaços, embora, tecnicamente, Jason dissera a ela onde o pedaço estava – o que não parecia justo.

Ali tinha decorado seu pedaço da bandeira na mesa da cozinha, depois do jantar, duas noites atrás, dando a Courtney, que assistia tv na sua “toca”, olhares de desdém.  Aqueles olhares diziam: veja como eu sou importante. Você nem tem permissão para sair de casa.

Mas Ali não tinha mais aquele olhar em seu rosto quando a bandeira desapareceu no dia anterior.

Na privacidade do seu patético e minúsculo quarto, Courtney deslizava o pedaço da bandeira, que estava decorado com logos da Chanel, da Louis Vuitton e um aglomerado de estrelas e cometas, entre os dedos. Courtney desenhou um poço dos desejos, porque queria deixar sua marca em algo da irmã, e prometeu que devolveria a bandeira a Ali.

Mas Jason pegou o pedaço da bandeira antes que ela pudesse devolver. Ele tinha visto Courtney olhando para ele em seu quarto e entrou dizendo: "Você quer realmente que as coisas piorem entre vocês? ". Então, ele pegou o pedaço de volta antes que ela pudesse dizer qualquer palavra.

Courtney estava prestes a fechar a mala quando o seu olhar pousou sobre o panfleto da clínica The Preserve at Addison-Stevens, dobrado no bolso da mala. Havia uma foto de um buquê de lírios sob o título. Eram as mesmas flores que seus pais usaram no funeral de sua avó.

Ela abriu o folheto e olhou para a primeira página.

"Nós atendemos crianças e adolescentes para auxiliar no desenvolvimento de suas habilidades e reconstrução da autoestima para poder voltar para casa e para a escola.".

Lágrimas brotaram dos olhos de Courtney. Ela estivera internada em uma clínica desde os nove anos. Mesmo que ela tivesse se acostumado ao Radley, assim como um rato se acostuma a uma gaiola, ela tinha visto coisas horríveis que não queria testemunhar novamente. Fazia pouco tempo, o hospital anunciou que estava fechando suas portas e se transformaria em um hotel de luxo.  Courtney chegou a supor que sua família iria trazê-la para Rosewood para viver com eles. Quando seu pai a buscou na sexta-feira, ele disse que essa visita seria um tipo de teste, que poderia se transformar em algo permanente.

Mas por alguma razão, as circunstâncias haviam mudado nas últimas vinte e quatro horas.  A Sra. DiLaurentis tinha batido na porta do quarto de Courtney pedindo que ela arrumasse suas coisas enquanto segurava o folheto da Preserve. "Acreditamos que essa será a melhor coisa para você.", ela murmurou, acariciando o cabelo da filha.

Courtney folheou as páginas do panfleto, olhando as fotos dos pacientes. Eles só podiam ser modelos, porque estavam muito felizes. Ela tinha ouvido coisas terríveis sobre a Preserve, histórias de outras crianças que passaram por lá. Algumas pessoas chamavam a clínica de corredor da morte, devido ao excesso de pacientes suicidas. Outras falavam que lá era a torre da Rapunzel, pois os pais deixavam seus filhos internados durante anos. Internet, telefone celular e televisão eram proibidos.

As enfermeiras pareciam figurantes do One Flew Over the Cuckoo’s Nest e os médicos eram estúpidos e sem paciência com as crianças.  Os pais achavam o lugar ótimo, por que, por fora, era lindo. E era caríssimo, então tinha que ser bom, não é?

Mas ela não ia. Ela passou a noite toda pensando em um plano para não ir.

Agora, todas as peças estavam se encaixando, exceto a oportunidade que ela precisava. Ela precisava que essa oportunidade surgisse logo. Seus pais a levariam em 45 minutos.

Ela enfiou o panfleto no meio da roupas, fechou a mala e a deixou na parte superior da escada.  

Então, desceu as escadas. Algo chamou sua atenção do lado de fora da janela. Quatro meninas estavam atrás dos arbustos, sussurrando. Courtney podia ouvir as suas vozes através da cortina.

Uma menina, loira com uma saia de hóquei  e uma camiseta branca, pôs as mãos nos quadris: "Eu estava aqui primeiro. A bandeira é minha.”.

"Eu estava aqui antes de você.", uma segunda menina gritou. Ela estava do lado de uma gordinha e tinha cabelo castanho encaracolado. "Eu vi você sair de sua casa há poucos minutos.". A terceira menina bateu o pé com sua bota de camurça roxa. "Vocês duas acabaram de chegar. Eu estava aqui antes de vocês.".

Courtney passou a língua sobre os dentes. Elas vieram por causa da bandeira da Ali? As meninas acenaram em direção a uma menina que vinha da casa ao lado, que deveria ser Spencer Hastings.

A Sra. DiLaurentis tinha mencionado o nome dela no jantar de sexta-feira e o Sr. DiLaurentis fez uma cara azeda. Ele tinha dito que os pais de Spencer eram muito exibidos, que haviam transformado o antigo celeiro da família em um luxuoso apartamento para a filha mais velha. “Como se um quarto não fosse suficiente?”, ele criticou.

"Está vendo as meninas lá fora?", Courtney perguntou a Ali, que estava de pé perto do balcão da cozinha, chacoalhando uma revista e com fones de ouvido nas orelhas. Jason tinha saído e seus pais estavam no andar de cima, se preparando para sair.  

Ali balançou a cabeça e os fones caíram. "O quê foi?".

"Há algumas meninas lá fora. Uma delas é a menina que mora ao lado.".

"Ela está no quintal?". Ali parecia irritada e caminhou em direção à janela.

Mas quando ela olhou para fora, franziu a testa. "Eu não estou vendo a Spencer. Graças a Deus!".

"Você não é amiga dela?".

Ali bufou. "Não. Ela é uma cadela.".

E você não é?, Courtney pensou.

Ali se virou para ela como se o que Courtney pensara tivesse sido dito em voz alta.  

Um sorriso malicioso se formou em seus lábios. "Camiseta bonita. Mas está me dando déjà vu.”.

Courtney pegou uma banana da fruteira. "Eu gostei da cor.".

"Ah, legal.".

Ali foi até o balcão e pegou um donut de uma caixa aberta.

"Cuidado.", disse Courtney passando em sua direção. "Donuts vão te deixar gorda.".

A geleia escorreu pelo queixo de Ali. "Então vou comer comida de hospital, sua esquizo.”.

Courtney fez uma careta. Ela não era uma esquizo e Ali sabia disso.

"Não".

"Não", disse Ali a imitando, transformando suas feições, parecendo que queria socar o estômago de Courtney. Ali sempre fazia um voz anasalada para imitá-la. "Pare com isso.", ela mandou. "Pare com isso.", remedou Ali.

Courtney sentiu seu corpo queimar por dentro, e essa era a mesma sensação que a colocou em várias confusões. Embora ela tenha tentado se segurar, não se conteve e disse: "Você não sabe.”, ela cuspiu. “Eu estou com o seu pedaço da bandeira.”.

Ali arregalou os olhos. "Eu sabia. Devolva.".

"Ele se foi", disse Courtney. "Eu dei a Jason. E ele não quer dar de volta para você.”. Aquela não era bem a verdade mas era uma boa versão.

Ali olhou carrancuda para Jason, que tinha reapareceu na porta.

"Isso é verdade? Você sabia que ela tinha a minha bandeira?".

Jason olhou para as duas irmãs, o seu olhar atento nas roupas delas, que eram quase idênticas.

"Bem, sim, Ali, mas...".

Os olhos de Ali pousaram no bolso de Jason.

O tecido azul brilhou. Ela mirou o poço dos desejos que estava desenhado entre o sapo de mangá e seu nome escrito em letras em forma de bolha. Ali fitou Courtney: “Você desenhou isso?”.

Jason empurrou a bandeira para o fundo do bolso.

"Ali, não ligue para isso.".

Ali  deu de ombros. "Você está sempre do lado dela!".

"Eu não estou do lado de ninguém.", disse Jason.

"Sim, você está!". Ali olhou enfurecida para Courtney. "É uma boa oportunidade para contar a mamãe que você me ameaçou ontem a noite. Isso é por que você está indo para o Preserve, você sabe.".

Os olhos de Courtney se arregalaram. "Eu não fiz nada para você!".

Ali inclinou o queixo para baixo. "Talvez você fez. Talvez você não fez. De qualquer maneira, você não é bem vinda aqui, sua puta.".

"Ali, já chega!", Jason gritou.

"Já chega!", Ali o imitou com um sorriso sarcástico. Em seguida, empurrou Jason nas escadas e ele bateu na estante de ferro. Ele cambaleou, a estante tremeu e um prato com a foto do Skyline de Nova York caiu no piso de madeira.

O silêncio após o acidente foi ensurdecedor. Jason olhou para Courtney, que estava imóvel em um canto da sala. "Por que você tem que começar as confusões com ela? ", ele sussurrou.

"Eu não poderia ajudá-la", disse Courtney, francamente.

"Sim, você poderia", disse Jason. E então, bufando, ele empurrou a porta dos fundos.

Courtney se virou. "Jason, espere!", ela gritou, correndo para a janela. Apenas Jason era seu aliado e ele não podia ficar com raiva dela.

Mas quando ela olhou pela janela, Jason já havia sumido. 

No entanto, as quatro meninas ainda estavam escondidas nos arbustos. Ela olhou para trás e viu os pedaços do prato quebrado espalhados por todo o chão. Não levaria muito tempo para que sua mãe percebesse a bagunça. Ela iria perguntar para as duas filhas o que tinha acontecido. Uma filha estaria no andar de cima. Mas, e se a outra filha estivesse do lado de fora conversando com algumas amigas da escola? Essa filha não seria Courtney, afinal, ela não conhecia ninguém. Ela nem tinha permissão para sair.

Era isso. Sua oportunidade. Se fosse lá fora, seus pais iriam pensar que ela era Ali  e não Courtney. Seria a primeira vez que ela representaria a irmã sem Ali por perto. Então, ela pensou: a primeiro coisa que preciso fazer é me transformar nela. Ninguém vai acreditar que eu não sou ela se não agir como ela. Então, ela fechou os olhos e mentalizou sua irmã.

Uma bela vagabunda. A abelha rainha manipuladora. A menina que tinha arruinado sua vida.

Sua pele ficou arrepiada. Não foi tão difícil assim. Courtney tinha sido a líder de um grupo de meninas populares no Radley, ocupando as melhores mesas, escolhendo a programação da tv e sendo a melhor no show de talentos. E mesmo antes de ir para lá, ela tinha sido mais querida pelos amigos de infância do que Ali fora.

As pessoas se sentiam à vontade com Courtney; ela sempre era a primeira a ser escolhida para jogar bola, a que mais recebia cartões no dia dos namorados, a garota que todos queriam para participar dos projetos de arte.

Ali, no entanto, intimidava as pessoas. Ela era muito agressiva e muito intensa. Ela gritava com as outras crianças quando os adultos não estavam por perto, fazia beicinho quando não ganhava um bom presente no amigo secreto e chegou a chutar um filhote de gato quando uma menina foi mostrar o animalzinho para ela.

Sim, Ali era um pouco mais bonita do que Courtney; mas não era a mais querida. E foi por isso que ela se esforçou tanto para tirar a irmã de cena.

Ela queria ser a única estrela.

Courtney viu onde Ali estava para garantir que sua mãe soubesse exatamente onde cada uma das filhas estaria. Meio que sem querer, derrubou outro prato no chão. O barulho foi tão alto que seria impossível ignorá-lo. Courtney empurrou a porta dos fundos, viu as meninas discutindo e olhou para o andar de cima da sua casa. Pelas expressões nos rostos das meninas, ela concluiu que conseguiu enganá-las. Claro que elas pensaram que era Ali.

"Você pode sair", ela gritou com o tom de voz mais confiante que já usara.

As meninas não se moveram.

"Sério, eu sei que tem alguém aí!", disse ela. "Mas se vocês vieram por causa da bandeira, ela não está aqui. Alguém roubou.”.

Spencer foi a primeira a sair detrás dos arbustos As outras a seguiram.

E então ela simplesmente. . . aconteceu. Elas a reconheceram como Ali e começaram a fazer uma série de perguntas. As respostas saiam da boca de Courtney de uma maneira tão natural que ela se achou perfeita para interpretar a irmã.

Quando a Sra. DiLaurentis apareceu na varanda, seu olhar analisou com cautela as meninas em seu quintal e ela, definitivamente, sabia que elas não eram amigas de Ali.  Mas quando ela olhou para a filha, não suspeitou de nada. Ela apenas confirmou para Courtney que achava que ela era Ali. Após fechar a porta, não demorou muito para que a família saísse com o carro.

Eles foram embora. E isso era tudo.

Courtney estava tão animada e nervosa que tinha medo de não conseguir continuar interpretando Ali, tratando as meninas de maneira apática.  Ela se sentia como se estivesse prestes a explodir. Estava com vontade de abraçar todas as árvores do seu quintal.

Courtney entrou de volta na casa. Ela se sentia como se tivesse acabado de chegar correndo do Radley até sua casa.

Sua cabeça estava leve. Seu corpo, pesado. Ela observou a cozinha. Pedaços do prato ainda estavam no chão.

Um vaso de flor também tinha sido derrubado. O silêncio da casa parecia se revesar com vozes de fantasmas falando o que tinha acabado de acontecer. Gritos violentos e desesperados ecoavam no ar. Houve uma briga para forçar alguém a entrar no carro. Houve um protesto contra os pais, alegando que eles estavam internando a filha errada.

Ela caminhou pelos cômodos silenciosos, os sapatos de sua irmã jogados no chão. Seu plano dera certo. Mas, de repente, o pânico a atingiu. Agora ela precisava mantê-lo. Aquilo não era algo que deveria durar até  alguém descobrir que a garota errada estava na Preserve.  

Ela tinha que descobrir uma maneira de ficar em casa para sempre.

Ela correu para o quarto da irmã, no andar de cima, pulando a escada de dois em dois degraus. Seus olhos fitaram a colcha da cama de Ali, os recortes de revistas e as fotos de suas amigas na parede. O guarda roupa estava cheio de roupas deslumbrantes.

Ela deitou na cama de Ali e enfiou a mão embaixo do colchão. O diário de Ali estava no mesmo lugar que Courtney o vira no dia anterior. Ela se sentou e começou a ler.

Mas quando ela chegou no final, a sensação efervescente em seu estômago se intensificou. O diário era todo sobre Naomi Zeigler e Riley Wolfe, e Ali tinha escrito códigos e piadinhas internas que seriam impossíveis Courtney descobrir. De maneira alguma ela poderia ser amiga de Naomi e Riley – ela teria que abandoná-las e formar um novo grupo. Mas, quem seriam suas amigas?

A imagem das quatro meninas no quintal surgiu em sua cabeça.

Spencer, Aria, Emily e aquela gorducha.

Ela pegou o anuário da quinta série de Ali e folheou as páginas. Hanna era o nome da gorda. Mas nenhuma delas assinou o livro de Ali. Perfeito!

Sua cabeça doeu um pouco e ela colocou o diário embaixo do colchão.  Apenas uma hora havia passado. Seus pais já estavam de volta? Será que perceberam o equívoco? Courtney espiou pela janela da frente. Um carro preto estava estacionado na sarjeta, mas não era possível ver o motorista.

Vindo da cozinha, era possível ouvir o som de alguém entrando. Depois, o som veio das escadas. Ela permaneceu imóvel. Uma pessoa apareceu na porta.

Jason olhou para ela com os olhos meio fechados.

"Será que eles já a deixaram lá?".

Courtney respondeu que sim com a cabeça, prendendo a respiração.

A boca de Jason mal se abriu. "Bom, Ali, acho que agora você deve estar feliz.".

Ele deu de ombros e foi para o seu quarto, batendo a porta com tanta força que as paredes tremeram.

Alguns segundos depois, era possível ouvir uma música de Elliott Smith.

Courtney passou as mãos pelo rosto. Jason a chamou de Ali.

Ela parou em frente ao espelho. A menina que aparecia no reflexo usava uma camiseta rosa e um sapato de salto. Ela tinha o cabelo brilhante, o rosto em formato de coração e sorria com o canto da boca. 

Ela jogou a cabeça para trás e ajeitou os cabelos sobre os ombros, do mesmo jeito que Ali fazia e deu um suspiro. Ela conseguiu!

Uma onda de euforia percorreu seu corpo. Ela ia dominar a escola. Tornar-se fabulosa. Transformar-se, da melhor maneira possível, em Alison DiLaurentis. Ela merecia aquilo. Mas, e sua irmã? Courtney pensou em Ali dentro do carro com seus pais e como seria a vida dela na Preserve. Mas o que estava feito, estava feito. E foi muito justo.

Ela permaneceu em pé em frente ao espelho, admirando a menina que aparecia no reflexo.

De repente, ela se lembrou de algo. Correu para o quarto de hóspedes, abriu a gaveta de cima da escrivaninha e pegou o anel que tinha roubado de Ali na noite anterior, enquanto ela lavava os pratos. Ela colocou o anel na direção da luz. Uma pequena letra A estava gravada nele. Sorrindo para si mesma, colocou o anel no dedo indicador direito, o mesmo dedo em que Ali o usava.  

Então, ela olhou para a menina no espelho; "Eu sou Ali.", ela disse para seu reflexo. "E eu sou fabulosa.".


*Switcheroo, em português, significa uma súbita mudança de atitude, posição ou ação.

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